SEBASTIÃO ILDEU DO COUTO
Sebastião Ildeu do Couto nasceu dia 06/12/1930 em Santo Antônio do Grama, pequena cidade no interior de Minas. Sempre foi um excelente filho, irmão, marido, pai, genro, sogro, amigo, empresário, fazendeiro, cidadão, enfim, exerceu bem todos os papéis que a vida lhe designou. Depois dos 70 anos resolveu expressar o seu lado oculto por tantos anos, talvez sufocado pela grande carga de trabalho que abraçou durante toda sua vida – seu lado escritor e poeta.
De escritores do tempo de Lampião
Não herdei esses dotes
Eles passaram por cima do meu berço, da minha cama, do meu colchão
Isso ocorreu naturalmente sem nenhuma explicação.
Fui criado na roça
Numa fazenda onde só se aprendia a trabalhar
Comparado aos dias de hoje, parecia mais o sertão
Embora próximo a área urbana
Não existia nenhum meio de comunicação
Para não faltar a verdade
Eu vivia mesmo na escuridão
Morava em uma fazenda com um imenso casarão
Era feliz com a vida que levava
Não tenho nenhuma reclamação
Não conhecia o progresso
E não tinha nenhuma pretensão
Recebia dos meus pais
Muito amor e dedicação
Boas maneiras e boa educação
Tenho boas lembranças
Todas elas, eu guardo no fundo do meu coração
Por todo carinho que recebi dos meus pais
Tenho por eles uma paixão e uma eterna gratidão
Procurei uma nova oportunidade na vida
Fui trabalhar como empregado atrás de um balcão
Este trabalho foi para mim um aprendizado de grande importância
Aprendi a exercitar a minha mente
A lidar com o público, com as pessoas
Sabendo respeitar os seus direitos e suas decisões
Segui novos rumos, novos caminhos
Em plena mocidade
Trabalhava e morava dentro de um caminhão
Abracei com força e coragem esta oportunidade
Que a mim estava reservada
E tinha muita determinação
À medida em que caminhava
Eu encontrava um mundo diferente daquele que eu conhecia
Deparei com muita competição
Falta de respeito para com o próximo
O lema era: “ Salve-se quem puder”
Com o progresso da informática, da televisão, das telecomunicações
Com tantos meios de informação, não tenho dúvidas:
Com a garra e determinação que eu tinha da “Era de Lampião”
Só estaria andando de avião, morando numa bela mansão e desfrutando de um carrão
Candidataria a uma cadeira na Academia de Letras
E, abriria um “Portão”
Da vida nada se leva
Tudo é pura ilusão
Disso eu tenho plena consciência
Não tenho e nunca tive essa pretensão
Da vida se leva a saudade, amizade e boa ação
Andei por muitos caminhos
Enfrentei muitas barreiras
Muitas delas na escuridão
Sempre com muita atenção
Para não tomar um tropeção
Sentia que eu estava navegando
Em um navio sem comandante, sem capitão
Tinha que seguir em frente
Sem ter, naquela contingência, outra opção
Tinha sempre fé em Deus
E era iluminado por sua proteção
Hoje quando eu paro para pensar
Faço uma reflexão
Apesar de ter tido muito cuidado
Andei muito na contra-mão
Comparado aos velhos tempos
Como velho setentão
Compreendo que sou dos tempos de Lampião
Comparado aos dias de hoje
Só me resta ter cuidado
Para não soltar um palavrão
Ao fazer essa comparação.
Texto escrito por Sebastião Ildeu Couto em 2009