segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

DEPOIMENTO SOBRE A TRAJETÓRIA PROFISSIONAL

“SEBASTIÃO ILDEU DO COUTO

Trabalhei desde criança ajudando o meu pai nos serviços agropecuários da sua fazenda. Filho de um homem sério, bravo, porém, maravilhoso e extremamente trabalhador que às vezes confundia o lazer normal da juventude com vagabundagem, tive em alguns momentos jogar futebol escondido para não ser repreendido. “Acho que não é à toa que não sei dar um chute preciso numa bola, pois tive desde muito cedo usar as minhas pernas para correr atrás de trabalho”.
Com 15 anos abandonei os estudos procurando rapidamente um trabalho onde eu pudesse ganhar o meu próprio dinheiro. Meu pai não me apoiou inicialmente, pois desejava um futuro brilhante para mim sem a cansativa luta do labor da roça. Contrariando seu desejo de me ver estudado e o meu próprio de não contrariá-lo, iniciei a minha vida profissional no ano de 1945, como empregado de meu irmão Itamar na venda de secos e molhados em Santo Antônio do Grama. “Contrariar é algumas vezes a única saída para não parar e seguir em frente”.Trabalhei arduamente até que decidi montar o meu próprio negócio. Queria mais autonomia e liberdade. Acho que nunca tive uma personalidade que aceitasse facilmente ser mandado; sentia-me, de certa forma, um pouco preso. Assim, com 17 e 18 anos resolvi plantar milho, feijão e cebola na roça. Pegava na enxada e contratei também alguns homens para trabalhar para mim. Vendia o produto de minha colheita para terceiros. Vislumbrando outras oportunidades, iniciei depois a compra de porcos para engorda vendendo-os a pessoas que se dedicavam a engorda de capados. Logo que comecei a entender do ramo, passei a comprar capados gordos e os vendia em Ponte Nova para Waldemar Cerqueira que distribuía para açougueiros. Naquela época não existiam porcos de granja, o abastecimento era feito exclusivamente através de porcos caipira. Como não existia gordura vegetal, a única alternativa era a gordura animal, assim quase todos os moradores do Grama engordavam capados em cevas de fundo de quintal sem nenhuma estrutura.
Em 1951, aos 21 anos, quando os meus pais mudaram para Ponte Nova, me transferi para Rio Casca onde estabeleci na Rua Dr João Pinheiro. Fui muito discriminado, mesmo montando um comércio, agora em sociedade com o Itamar, no mesmo ramo, com a denominação social Moreira Couto & Irmãos Ltda. Recebi a denominação preconceituosa de “Mata Pau do Grama” e não era convidado para as festas que aconteciam na sociedade riocasquense. Acho que era considerado por muitos como um zero à esquerda e pude sentir, nesta época, como dói as fisgadas da discriminação. Trabalhei muito neste período. Tudo era muito difícil, pois não existiam estradas, nenhum meio de comunicação e nem mesmo telefone. As compras eram feitas por viajantes que visitavam as “Praças.” O transporte era feito por ferrovias que levavam de 30 a 40 dias para a mercadoria chegar ao destino. O abastecimento vinha das “Praças do Rio de Janeiro e de São Paulo. Belo Horizonte era uma capital isolada por falta de estradas, não tendo na época nenhuma participação em nossa região. Analisando as dificuldades para abastecer o meu armazém, resolvi comprar o meu transporte próprio. Tomei um empréstimo com dinheiro particular e comprei um caminhão. Era um Volvo muito resistente, apropriado para as nossas estradas. Naquela época pude ter como fiador apenas o nome de meu pai. O nome de um homem trabalhador e honesto valia mais do que qualquer nota promissória. O meu exemplo de rapaz responsável e trabalhador também serviu como fiança. Com garra e coragem comecei a enfrentar as péssimas condições das estradas, considerando que não existia asfalto. As estradas eram de terra batida e quando tínhamos acesso a uma estrada melhor, ela tinha alguns trechos cascalhados. No trecho de Rio Casca para o Rio de Janeiro havia asfalto somente depois de Areal, já no estado do Rio.
Com todas as dificuldades, conseguia fazer uma viagem por semana ao Rio de Janeiro para abastecer o meu armazém levando feijão ou café para exportação. Sem outra opção, por ter pouco capital de giro, precisei fazer a mercadoria girar com rapidez. Se comprasse de viajantes, com a demora da chegada da mercadoria por Ferrovia, na maioria das vezes o título já estaria vencendo ou vencido. Lembro-me de um fato que muito me marcou nesta ocasião. Encomendei de um viajante 500 sacos de 50Kg de açúcar a ser comprado no Rio de Janeiro. Além do meu caminhão, contratei um outro para buscar a carga encomendada. Chegando lá, negaram-me entregar o produto alegando falta do mesmo. Os meus olhos vendo os depósitos carregados não acreditaram naquela história. Resolvi telefonar da rua passando-me por outro cliente e eles declararam que havia produto suficiente para carregar naquele dia mesmo. Voltei ao local e abri o verbo. Constrangidos, os vendedores se viram obrigados a serem sinceros. Relataram que o viajante que havia feito o negócio comigo tivera sido alertado por alguns comerciantes de Rio Casca sobre o risco que estavam correndo vendendo aquela carga para mim. Disseram que eu não tinha como pagar nem dez sacos, diga lá quinhentos, além de me rotular como um aventureiro que desejava dar um passo maior que as pernas. Sem crédito e tendo que voltar com os caminhões vazios, senti-me humilhado e revoltado. Comecei a chorar e fui consolado pelo motorista do caminhão que faria o frete para mim:
—Levante a cabeça! Você não deve chorar, pois o que eles sentem é inveja.
Pedi que ele me desse um tempo para pensar um pouco e encontrar uma saída. “Refrescar a cabeça é uma boa forma de descongestionar a mente e encontrar novas alternativas”. E, encontrei! Naquele mesmo dia procurei uma outra firma e consegui que um banco no Rio, onde eu possuía um pouco de dinheiro, me avalizasse oferecendo boas referencias sobre a minha condição econômica e moral. Não tendo como carregar dois caminhões comprando à vista, resolvi carregar apenas um utilizando a limitada quantia de dinheiro que eu possuía naquele banco. O dono da firma, sentindo firmeza, ofereceu-me carregar os dois caminhões dando um prazo de dez dias. Recusei-me, alegando não ter possibilidade de cumprir meus compromissos num prazo tão curto. Ofereceu-me assim, um prazo de vinte dias, mas ainda assim recusei-me alegando que só poderia comprar o produto num prazo de trinta dias. Ele concluiu o negócio dizendo:
—Quem recusa um prazo de dez e de vinte dias é porque não está querendo dar prejuízo a ninguém. Carregue o caminhão do rapaz!
Eufórico, transbordando alegria, saí com os dois caminhões carregados e consegui vender toda a carga mesmo antes de chegar a Rio Casca. Entusiasmado e com fortes desejos de comprar mais uma carga, convidei o meu parceiro a retornar ao Rio já no outro dia. Desejando me ajudar mais uma vez, falou num tom de brincadeira:
—Deixe pelo menos eu passar o domingo com a patroa, senão ela vai ficar muito brava comigo!
Já na segunda feira retornamos ao Rio, paguei à vista a carga anterior e comprei a prazo uma outra em igual valor. E assim, fui ampliando mais os meus negócios, certo de que da mesma forma que existem pessoas que bloqueiam os nossos caminhos, há também aquelas que ajudam você a passar pelas dificuldades e seguir em frente. “Tudo é uma questão de saber se conectar com as pessoas certas”.
A implantação da Usiminas em 1954 trouxe um contingente de aproximadamente 3000 trabalhadores diretos, além de empreiteiras e trabalhadores indiretos. O início do serviço de terraplanagem se parecia mais com a corrida em busca do ouro, pois não existia nenhuma estrutura, era tudo improvisado sem nenhum projeto em curto prazo. Não existiam armazéns, hotéis e nem mesmo pensões para atender a demanda. Aproveitando a oportunidade que o momento oferecia, passei a atender as praças de Timóteo, Acesita, Coronel Fabriciano e a Usiminas. Semanalmente eu estava ali presente com meu caminhão carregado de produtos básicos e vendendo diretamente da carroceria do caminhão para o cliente. Tudo que levava eu vendia rapidamente, pois as praças estavam carentes de fornecedores. Nesta oportunidade, resolvi comprar o segundo caminhão. Comprei um Alfa Romeu, FNM fabricado pela fábrica nacional de motores que naquela época era o orgulho do Brasil, pois não existia nenhuma indústria automobilística aqui, sendo toda a frota importada. O “Mata Pau do Grama” adquiriu o seu segundo caminhão. Apesar de muitos falarem que eu era um aventureiro, comecei a ser mais procurado, respeitado e convidado para as festas que aconteciam na sociedade riocasquense. O valor deste meu segundo caminhão era proporcional ao de uma fazenda. Quando meu pai ficou sabendo, ficou extremamente preocupado temendo que eu não desse conta de pagar as prestações do mesmo. Lembro-me da séria conversa que teve comigo querendo advertir-me:
—Fazendo gracinha!!!! Olha quanta gente está quebrando!
Meio atrevido, mas querendo ao mesmo tempo tranqüiliza-lo continuei:
—O senhor só mostra quem está quebrando, mas quem ganhou dinheiro trabalhando não!
Sem muita alternativa ele concluiu:
—Agora você tem que dar conta!
Estava determinado a dar conta. Embreei-me numa jornada de trabalho difícil, pois não havia sequer um palmo de asfalto e as estradas eram exclusivamente de terra com pequenos trechos cascalhados. Nos dois primeiros meses caiu muita chuva impossibilitando-me de colocar o caminhão na estrada. Com o caminhão parado, não teria como pagar as prestações. Chegara a hora de pensar em outras alternativas viáveis. “Precisamos estar atentos e abertos para agarrar as oportunidades” e foi abrindo um jornal que achei a solução para o meu problema. Consegui transportar minério de Belo Horizonte para o Rio. Durante um mês direto, indo e voltando, sem tréguas, consegui o dinheiro para cumprir os meus compromissos atrasados e futuros. Procurei o meu pai novamente. Assim que cheguei em casa ele me disse:
—Você sumiu!
—Tive que sumir para dar conta de meus compromissos. Aqui estão as prestações pagas e mais três prestações futuras pagas adiantadas.
Com aquele jeito bizarro, sem dar o braço a torcer, ele se limitou a dizer novamente:
—Tem que dar conta!
Para melhorar o rendimento no transporte, eu pegava carga da empresa Asa Branca, concessionária do transporte das cargas da Acesita do Rio e de São Paulo. Então, eu fazia transportes na maioria das vezes para o Rio de Janeiro e algumas vezes para São Paulo quando não havia carga para o Rio. Retornava com os caminhões carregados, parte da carga eu deixava em Rio Casca para abastecer o meu armazém e a maior parte tinha como destino a Usiminas, aproveitando a oportunidade que dia a dia ia surgindo. O meu crédito foi só crescendo, ampliei a quantidade de clientes e em 1957, aos 27 anos, comprei o meu terceiro caminhão, um GMI. Mais uma vez procurei o meu pai. Desta vez, cheguei buzinando. Chegando na varanda de sua casa, assustado, ele me perguntou:
—De quem é este caminhão?
—É claro que é meu!
—Vendeu os outros?
—Não. Comprei mais esse.
Desta vez, já mais acostumado com a minha ousadia, ele se limitou a perguntar:
—Onde arranjou dinheiro?
—Trabalhando!!!!!!!!!!!!
—Não tem jeito com você não. Tem é que deixar você pra lá!
Ele nunca me deixou pra lá, mas passou a acreditar mais em mim e no caminho que eu acreditava.
A vida de caminhoneiro não foi fácil. Passei por muito sufoco, pilantragem da polícia nas estradas federais, o que me faz crer que a corrupção neste país é muito mais antiga do que se possa pensar. Dirigia dia e noite com uma tranqüilidade e habilidade que não tenho mais hoje. Dormia na estrada dentro ou mesmo debaixo do caminhão. Muitas vezes ficava agarrado na lama das estradas e tive que desenvolver o meu lado mecânico para consertar os problemas e defeitos do veículo. Fui vítima de alguns acidentes; lembro-me de um trágico, porém engraçado. Contrariando o desejo da minha mãe de não trabalhar na Sexta-feira Santa, pus o caminhão na estrada em busca do meu pão de cada dia. Sofri um acidente onde acabei todo enfaixado e de certa forma, imobilizado. Voltando para casa, cansado e impossibilitado de dirigir, passei a direção ao meu parceiro que também exausto dormiu no volante ocasionando o segundo acidente no mesmo percurso do anterior. Ao sermos resgatados, os curiosos exclamaram admirados:
—Olha, o acidentado já saiu enfaixado do caminhão!
Depois disso não trabalhei mais na Sexta-feira Santa. “Trabalho para mim é virtude, mas nesta data, passou a ser um pecado”.
Aproveitei até 1959 enquanto a praça estava sem fortes concorrentes. Fui bem sucedido aproveitando todas as oportunidades que me foram oferecidas. À partir de 1958, começaram a instalar em Coronel Fabriciano empresas de grande porte, bem estruturadas. Estas começaram a se estruturar através da construção de grandes armazéns e supermercados para atender a região. Essa contingência foi diminuindo a minha participação e com a competição passei a analisar a viabilidade de não concorrer com empresas que estavam chegando. Como alternativa, parti para outras praças.
Em 1961, me transferi para Ponte Nova e me associei a firma Comécio Importação e Exportação Ltda em sociedade com meu outro irmão, Zito Couto. Abrimos uma filial em Raul Soares para a compra de cereais. Na época éramos um grande celeiro em produção de arroz , milho e feijão; dedicamos a exportação para as praças do estado do Rio e capital.
Em 1963 desmembramos a firma e fiquei com a filial de Raul Soares. Mudei para Juiz de Fora e passei a dedicar exclusivamente a compra de cereais e exportação. Não me dei muito bem em Juiz de Fora, mas, ao invés de lamentar procurei novos horizontes. Foi aí que transferi, em1964, a firma de Raul Soares para Belo horizonte na Av. do Contorno 6536 onde instalei um armazém de cereais de varejo e atacado. Paralelamente eu comprava açúcar da Usiminas Açucareira de Ponte nova e vendia com faturamento direto da usina por atacado para firmas de Belo Horizonte e municípios vizinhos. Para melhor aproveitar o tempo, quando terminava a safra das usinas passei a dedicar a venda de automóveis usados em parceria com outros comerciantes do ramo. Alugamos uma agência na AV Bias Forte n° 918. Cada um de nós trabalhava individualmente, comprando e vendendo os seus carros, rateando finalmente as despesas administrativas.
Tempos depois comprei uma loja na Rua Grão Mogol nº 240 e instalei um supermercado. Estive no ramo até 1968. Em 1969 passei a dedicar ao comércio de bebidas e cereais por atacado. Em 1970 construí um galpão no Bairro Saudade onde montei um comércio de engarrafamento de bebidas com distribuição e venda por atacado – Bebidas, Caixarias e outros produtos correlatos ao ramo de negócio. Essa comercialização era feita através de vendedores – “pracistas”, com entrega direta na Grande BH e cidades satélites (Nova Lima, Raposos, Congonhas, Lafaiete) e outros municípios e regiões. Nesse seguimento estive até o ano de 1973.
No final do ano de 1973, em entendimento com Itamar, recebi uma proposta para a compra do Posto Jacarandá em Rio Casca. Fiz a análise da proposta, já não via grandes atrativos nos centros grandes. Com o tempo fui perdendo o encanto com Belo Horizonte, embora a cidade oferecesse muitos atrativos. Coloquei na balança os pontos positivos e negativos, sendo que os negativos pesaram bem mais. Para se fazer uma administração eficiente em minha empresa em Belo Horizonte, eu estava mantendo uma carga horária de trabalho sem limites e não me sobrava tempo para aproveitar tudo de bom que a cidade oferecia. Analisei que o desgaste físico e mental traria futuras conseqüências a minha saúde e a minha qualidade de vida na 3ª e 4ª idade.
Dias depois de receber a proposta, em outubro de 1973, viajei para Rio Casca, fiz uma análise e decidi pela compra do Posto Jacarandá. Imediatamente assumi a Empresa do Posto e coloquei em andamento o encerramento dos meus negócios em Belo Horizonte.
Em Janeiro de 1974 mudei definitivamente para Rio Casca e assumi com garra a administração do posto, hotel, bar e restaurante, fiz alguns melhoramentos em suas estruturas e conquistei novos clientes.
Em 1975 comprei o Posto Esplanada Bar e Restaurante de Geraldo Madeira em Abre Campo e fiz um investimento expressivo em suas instalações. Fiz um bom trabalho multiplicando assim a clientela em curto prazo. Passei a dividir o tempo entre a administração do Posto Jacarandá e o Posto Minas Mar. Na década de 80 passei a administração para o Rômulo, meu filho, fazendo novos investimentos, remodelamos as instalações do posto, bar e restaurante. Fizemos novas conquistas com a sua administração eficiente e progressista. Nesta mesma época comprei o “meu paraíso”, o Sítio Lagoa Grande. Pude finalmente começar a me dedicar ao ramo de negócios que mais me deu prazer nesta vida apesar das dificuldades – o setor agropecuário, com ênfase principal na pecuária. Fui aumentando a minha propriedade comprando, no ano de 1985 e 2002, propriedades vizinhas que transformaram meu sítio numa boa fazenda muito bem administrada exclusivamente por mim. Em 1989 comprei um outro sítio em Abre Campo. No mesmo ano, e em 1994, em sociedade com Rômulo, compramos mais duas propriedades que são administradas pelo mesmo. A minha fazenda além de ser um ramo de negócios é o meu hobby, o meu lazer e o meu prazer predileto.
Com a administração de José Marcio, meu filho mais velho, fundamos a Premac Indústria e Comércio, anexo ao Posto Jacarandá, com fabricação de pré-moldados (Lages, blocos, mourões e bloquetes) e ainda na década de 80 nos transferimos para a BR 262. Ampliamos as nossas instalações e nossa linha de trabalho comercializando materiais pesados (cimento, telhas, tijolos, cerâmicas e outros produtos).
Em setembro de 1989 desliguei-me do Posto Jacarandá juntamente com José Marcio e montamos a loja da PREMAC na Rua Benjamim Vieira Coelho n° 48 ampliando novamente a nossa linha de produtos e material de construção em geral. Não foi fácil desapegar-me deste posto de gasolina ao qual doei grande tempo de minha vida, mas “algumas contingências da vida às vezes nos obrigam a desapegar de algumas coisas para conquistarmos outras”. A minha maior conquista à partir deste momento foi uma dose maior de tranqüilidade.
Em seguida, transferimos a loja da PREMAC para a rua Dr João Pinheiro nº 269 com novas instalações e sede própria. Ampliamos ainda mais os negócios e hoje trabalhamos com uma variedade de aproximadamente 5000 itens.
Quero também ressaltar o grande prazer que sempre tive em construir imóveis. Inicialmente sozinho e posteriormente em sociedade com meus filhos, construímos casas, vários prédios onde alugamos lojas, salas e apartamentos. Depois que vim para Rio Casca, comprei também alguns imóveis em Belo Horizonte que serviram de renda para mim e para a família de maneira geral. Sempre digo que o último imóvel construído ou comprado será realmente o último, mas a verdade é que nunca consegui cumprir esta promessa. “Gosto de ver o meu suor fincado no chão”.
Analisando detalhadamente a minha vida, dá a entender que eu variava muito os meus projetos de trabalho. Determinado pela Providência Divina e pelo destino, acredito que tudo existe uma razão de ser e acontecer. Às vezes fazia um projeto e o destino me colocava em outro caminho. Nem em todos os caminhos que percorri encontrei flores e perfumes e por muitas vezes encontrei espinhos, barreiras e pedras. No meu caminho, os espinhos fizeram parte do meu destino e me ensinaram a caminhar. As pedras eram colocadas por aqueles, que sem motivo aparente, talvez por inveja, queriam bloquear o meu sucesso; muitas vezes pessoas bem próximas, o que me deixava ainda mais indignado. Muitas vezes fui humilhado e não tinha suporte para dar a resposta àqueles que colocavam as pedras no meu caminho, mas como um bom mineiro...

Mineiro não ouve, escuta

Mine Mineiro não responde, abana a cabeça
Mineiro não fala , leva o desafio para a casa, anota no caderno, rasga a folha e coloca no
fundo da gaveta para depois dar a resposta
Mineiro não tem diário, tem um velho caderno
O retorno era trabalho, trabalho, trabalho
Vencer , vencer, vencer
Mineiro trabalha em silêncio!

Desde a minha infância aprendi como lição dos meus pais, com sua sabedoria, que tudo na vida se constrói com amor, dedicação, humildade, honestidade e respeito. Respeito para ser respeitado, amar para ser amado. Usando esses ingredientes teremos a oportunidade de vencer e ser feliz. À partir desses ensinamentos procurei colocar em prática tudo o que me foi possível, baseando-me também nos ensinamentos bíblicos. O sentido de nossa existência baseia-se na criação do ser humano para amar as pessoas e criar as coisas. Infelizmente inverteram-se os papeis; hoje, muitos aprendem primeiro a amar as coisas, o dinheiro, os bens materiais e usar as pessoas.
Em minha juventude, aos 15 anos, parti para a luta. Nunca fiquei de braços cruzados na janela esperando a banda passar, procurava correr na frente da banda e dançar conforme a música. Aquele ditado,“estou correndo atrás”, nunca foi o meu perfil. “Correr na frente”, representava, para mim, força e coragem para conquistar alguma coisa. “Correr atrás” representava negligência; correr atrás do que já deveria ter sido conquistado antes é para mim uma tentativa de recuperar o prejuízo daquilo que você negligenciou.
Eu fazia meus projetos de trabalho e os colocava em prática, aqueles que não eram viáveis, eu fazia algumas adaptações e se não dava certo partia imediatamente para outro. Tinha como princípio de consolação: “Se não houve frutos valeu as flores, se não houve sombras, valeu as sementes”. Resumindo, valeu a experiência, valeu os conhecimentos e a determinação. Tinha em mente que tudo na vida se vence com o trabalho agraciado pela providência divina. Em todos os meus projetos colhi bons resultados financeiros, quando não colhi dividendos, acumulava experiência, quando um caminho era bloqueado eu aprendia muitas coisas que não havia aprendido antes, e a seguir abria sempre um caminho melhor para conquistar algum espaço que estava no futuro para mim reservado.
Finalizando, os meus melhores agradecimentos a Deus pela sua infinita bondade e por me conceder muita saúde física e mental. Ele iluminou o meu caminho dando-me muita saúde, força, coragem e disposição para enfrentar todos os obstáculos e determinação para o trabalho.
Quero agradecer também:
Especialmente aos meus pais que tanto lutaram para o meu bem e de toda a família.
À minha querida esposa Aída que sempre esteve ao meu lado seguindo junto o meu caminho, apoiando as minhas decisões, mulher nota 1000, esposa/mãe/sogra/avó;
Aos meus filhos, noras, genros e netos que com carinho e respeito caminharam também junto comigo;
Aos amigos que me passaram energias positivas;
Ás pessoas que no início de minha vida, quando eu não tinha suporte econômico e nem financeiro, acreditaram em mim emprestando dinheiro a juros baixos, contribuindo decisivamente para o meu sucesso;
Aos meus ex-clientes e atuais clientes que deram preferência às minhas empresas contribuindo para o meu progresso. Já que o maior capital de uma empresa é o cliente, eles formaram o meu capital;
Aos meus ex-funcionários que vestiram a camisa das minhas empresas, contribuindo dessa forma para que eu alcançasse a minha independência financeira e econômica;
Agradecimento especial à saudosa memória do amigo e ex-motorista Georgino Martins da Silva que sempre teve um papel importante no início de minha vida em Rio Casca. Para ele não haviam barreiras nem tempo ruim, enfrentava comigo na cabine de meu Volvo FNM, calor, sol e chuva, viajando dias e noites, domingos, feriados e dias santos, enfrentando as piores estradas da época. Com honestidade estava sempre disposto, alegre e sem nada reclamar. Esteve sempre solidário comigo para que pudéssemos cumprir os compromissos assumidos, entregando a carga de terceiros e abastecendo o meu comércio.
Reportando, devo destacar as pessoas que acreditaram em mim, me emprestando dinheiro no início da minha vida, na hora que mais precisava. Um agradecimento especial ao Sr Sebastião Cotta que morava na época em Sericita. Ainda lembro-me dele dizendo com toda segurança:
“Não precisa de nota promissória não. Você é menino direito, te vejo rodando de dia, noite e madrugada, trabalhando sem parar.”..
Ao Sr Nênen Bicalho de Águas Férreas que acreditou na minha idoneidade quando eu era ainda discriminado em Rio Casca.
Parece estranho, mas agradeço também àqueles que sem razão alguma bloquearam os meus caminhos para tirar vantagens financeiras nos negócios, muitas vezes me humilhando. Naquela época eu não tinha suporte econômico e financeiro - aquilo que se chama “Bala na Agulha” para dar resposta. Humildemente me limitava a ficar calado, achando ser esta a melhor alternativa. De certa forma foi positivo, pois as pressões que recebia me davam cada vez mais força para encarar as dificuldades com um único objetivo: “vencer/ vencer/ vencer”. Hoje tenho a minha resposta: “O meu sucesso, a minha independência financeira e econômica”.
Para eles não digo o meu perdão, entendo que só Deus tem o poder de perdoar, digo o meu esquecimento.
Falei sobre a minha trajetória profissional, a particular é ainda mais interessante e bela, daria possivelmente para escrever um livro. A minha vida, por força de circunstâncias foi voltada para o trabalho. Inicialmente não tive condições financeiras e econômicas para gozar a vida; prazeres da vida tem o seu custo e muitas vezes fugia das minhas possibilidades. Nunca tive herança nem patrocinador financeiro para bancar os meus projetos, lutava para chegar em algum lugar, o ponto onde cheguei. Eu não estou lamentando o que passou, fui agraciado por Deus que me deu saúde, inteligência, força e determinação para o trabalho. Tenho uma família maravilhosa também protegida pela providência divina. Para mim a minha maior felicidade é o bem estar da família que é o bem sagrado e também o combustível que dia a dia move a minha existência.
Deixo o meu atestado: “Fui feliz/ fui feliz/ fui feliz/. Sou feliz/sou feliz /sou feliz”.
No meu modo de pensar, cada um constrói a sua felicidade, constrói a sua vida dentro das suas possibilidades. Para ser feliz devemos nos espelhar no nosso semelhante que não tem saúde, dinheiro, condições econômicas, emprego, casa para morar, e nem mesmo família. Analisando a situação de ambas as partes, tira-se logo a conclusão do que é a felicidade – “Felicidade não se compra, ela é construída durante a existência de cada um.”
Neste documentário não pretendo nem tenho pretensão de receber um troféu de modelo de vida. Na minha existência, por motivo de defesa própria, devo ter falhado nos ensinamentos que recebi dos meus pais conforme declarei. Por força de circunstâncias, o ser humano não pode ser bonzinho em todas as suas decisões; o bonzinho, muitas vezes, acaba sendo mal interpretado, dando chance para os inescrupulosos que aproveitam o momento para tirar vantagens. Como recompensa são taxados com o título de “burro, certificado de bobo e incompetente, com diploma de otário”. Existe o ditado: “O mundo é dos espertos.” Na minha avaliação, espertos com honestidade, defendendo-se a si próprio é positivo. Esperto com desonestidade, aproveitando a situação do momento, é negativo. Não devemos radicalizar esta situação, o importante é fazer uma avaliação criteriosa distinguindo os aproveitadores e os bem intencionados que necessitam no momento de alguma ajuda, ou colaboração.
Terminando, acho que alguma coisa poderá será ser útil para quem ler este depoimento, fazendo uma avaliação com os devidos cuidados. Não me preocupei com erros de gramática, com pontuações, concordância e colocação das palavras, pois não freqüentei bancos de escolas do ensino médio e nem faculdades. O que sei aprendi na minha própria faculdade: “A escola da vida”. Tudo está gravado em meu computador que é a minha mente. As palavras foram naturalmente brotando na medida em que eu ia escrevendo, portanto, o que você achar de bom e positivo, guarde; o que não interessar por conveniência, esqueça.

“ELE NÃO PAROU. CONTINUA SUA TRAJETÓRIA REPLETO DE NOVAS HISTÓRIAS PARA CONTAR...

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